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Obesidade

Nova proposta para classificação da obesidade, justificativas e limitações.

Escrito por Luciano Albuquerque

A obesidade ainda é definida e classificada utilizando como base o índice de massa corporal (IMC). Embora útil no contexto epidemiológico, o IMC muitas vezes não consegue determinar os riscos do indivíduo em um ambiente clínico. A circunferência abdominal tem maior correlação com desfechos clínicos e comorbidades metabólicas. Entretanto, em indivíduos de maior peso, pode falhar na avaliação da localização subcutânea ou visceral da gordura. Além disso, apresenta variabilidade na sua medida, limitando a reprodutibilidade. Neste cenário, uma nova proposta para a classificação da obesidade encontra justificativa.

A obesidade tem fisiopatologia complexa. Tentativas de perder peso são contrabalançadas por mecanismos adaptativos, com redução do gasto de energia e aumento do apetite, conduzindo a recuperação do peso. Esses processos sustentam a hipótese do “set point” de peso corporal.

Normalização sustentada do peso raramente é alcançado com tratamento clínico. Entretanto, vários estudos mostram que a perda de peso reduz os riscos para a saúde, independente do peso final alcançado. Várias diretrizes em todo o mundo recomendar uma perda de peso de 5%-10%. Tais documentos falham em identificar e classificar os indivíduos que perderam peso no passado e foram capazes de manter a perda. Indivíduos que permanecem com valores de IMC dentro da faixa de obesidade, porém que já tenham tido perda significativa, seguem sendo avaliados como de “alto risco”. Tais indivíduos ainda apresentam maior dificuldade em atingir perda adicional de peso, criando frustrações na busca de metas inadequadas.

Neste contexto, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo – SBEM e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica – ABESO propõem uma classificação para a obesidade usando o peso máximo atingido na vida e a porcentagem de perda de peso alcançada para orientar gestão e decisões individuais. Para indivíduos com IMC entre 30 e 40 kg/m2 um peso atual < 95% do maior peso classificaria como obesidade reduzida e < 90% como Obesidade controlada. Quando o IMC for > 40kg/m2 os valores seriam < 90% e < 85%, respectivamente.

A justificativa da proposta não é substituir as atuais e sim adicionar novas informações, valorizando o histórico prévio de variação do peso. Pacientes com resposta prévia (reduzida ou controlada) teriam evidentes benefícios com perda adicional, porém a manutenção do resultado já alcançado também deve ser um objetivo. Essa informação também seria importante na avaliação de novas propostas terapêuticas, visto que pacientes nesses grupos poderiam ter menor percentual de perda, considerando a resposta anterior.

Limitações são evidentes. A classificação demanda uma informação precisa do paciente sobre seu histórico de peso. Além disso, ainda não existem estudos que corroborem as hipóteses levantadas. A desvalorização de uma perda de peso menor que os limites apresentados e a falta de avaliação da resolução de comorbidades são outros pontos a ressaltar.

Concluindo, a proposta apresenta uma classificação relativamente simples e que busca adicionar novas informações. Esperamos implicações práticas interessantes, com melhoria no cuidado da obesidade. Estudos são previstos para a devida validação e adição de marcadores clínicos. Tanto a SBEM quanto a ABESO estarão empenhadas nesse processo.



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Sobre o autor

Luciano Albuquerque

Preceptor da residência em Endocrinologia do HC-UFPE e da residência em Clínica Média do Hospital Otávio de Freitas. Presidente da SBEM regional Pernambuco no biênio 2019-2020.

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