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Neuroendrócrino

A medicina de precisão chegou!

Escrito por Luciano Albuquerque

A busca por tratamentos mais eficazes e personalizados, a partir da análise de informações como genética e biomarcadores, associando a características clínicas e de histórico pessoal e familiar, define o campo de atuação da chamada Medicina de precisão, campo em franco desenvolvimento. Tal abordagem vem desempenhando um papel crucial na oncologia. Através de testes genéticos e moleculares para identificar mutações específicas presentes no tumor de um paciente, é possível determinar o tipo de câncer, seu estágio e as melhores opções de tratamento disponíveis.

Os craniofaringiomas são tumores raros do sistema nervoso central (SNC), derivados de células embrionárias localizadas perto da haste hipofisária. Devido a esta localização anatômica adjacente ao nervo óptico, hipófise e terceiro ventrículo, a excisão cirúrgica completa raramente é possível. Além disso, frequentemente se associa a complicações como déficit visual, hipopituitarismo e obesidade hipotalâmica. A radioterapia está igualmente associada a complicações de curto e longo prazo e eficácia variável. Assim, embora os craniofaringiomas sejam histologicamente benignos, a história natural desses tumores inclui recorrências frequentes e complicações diversas.

Dois subtipos histológicos de craniofaringiomas são reconhecidos: adamantinomatoso e papilar. Em uma análise genética desses tumores, foi verificada forte associação com a mutação BRAF V600E nos craniofaringiomas(94%), bem como mutações ativadoras da beta-catenina (CTNNB1) em craniofaringiomas adamantinomatosos (96%). Tal associação abriu espaço para estudos baseados na medicina de precisão.

Em artigo recém-publicado no NEJM, Brastianos e colaboradores relatam os resultados de um estudo de grupo único de fase 2 envolvendo pacientes com craniofaringioma papilar com mutação BRAF V600E não tratado anteriormente. Com o uso da combinação de Vemurafenib (um inbidor RAF) associado ao cobimetinib (inibidor MEK), o estudo mostrou uma alta incidência de resposta radiográfica. Dos 16 pacientes, 15 (94%) tiveram pelo menos resposta parcial com redução do volume tumoral de 91% em 4 meses após o início da terapia. Em uma média de 22 meses após o tratamento, 12 dos 16 pacientes (75%) apresentavam doença estável.

Várias combinações de inibidores de BRAF-MEK já foram aprovadas pelo FDA americano para o tratamento de melanoma, glioma, câncer de pulmão e de tireoide, que expressem a mutação BRAF. Tais resultados apontam o caminho da terapia agnóstica, direcionando a escolha terapêutica de acordo com a via molecular comum afetada. O futuro já chegou.



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Sobre o autor

Luciano Albuquerque

Preceptor da residência em Endocrinologia do HC-UFPE e da residência em Clínica Média do Hospital Otávio de Freitas. Presidente da SBEM regional Pernambuco no biênio 2019-2020.

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