fbpx
Diabetes

Metformina e diabetes na gestação: quais as recomendações?

diabetes gestante
Escrito por Ícaro Sampaio

Mulheres com diabetes mellitus (DM) preexistente necessitam de ajustes no seu regime farmacológico para atender às mudanças nas demandas metabólicas que surgem durante a gestação. No diabetes mellitus gestacional (DMG), a intervenção precoce com insulina ou um agente oral é fundamental para alcançar os alvos terapêuticos quando a terapia nutricional não fornece controle glicêmico adequado. Em ambos os casos, a metformina surge como opção de terapia farmacológica. Mas quando devemos iniciar tal agente?

A metformina é um antidiabético oral que exerce sua ação hipoglicemiante através da diminuição da produção hepática de glicose, inibindo a gliconeogênese. Além disso, aumenta a captação de glicose mediada por insulina em tecidos periféricos (como músculo e fígado). Na gestação, os potenciais benefícios do uso da metformina incluem redução da glicemia e da resistência à insulina. No entanto, como as concentrações fetais da metformina são semelhantes ou superiores às da mãe, existem potenciais preocupações de segurança.

O estudo MiTy, publicado em 2020, foi um ensaio randomizado e controlado por placebo que investigou os efeitos da adição de metformina a um regime padrão de insulina, em gestantes com DM2. Não foram observadas diferenças quanto ao desfecho primário (um composto de desfechos fetais e neonatais). No entanto, as mulheres do grupo metformina tiveram um ganho de peso global menor durante a gravidez, com -1,8 kg (p < 0,0001). Além disso, tais participantes apresentaram níveis menores de HbA1c, necessitaram de doses mais baixas de insulina e foram menos propensas a necessitar de parto cesáreo.

No clássico estudo MiG, que comparou uso da metformina com uso de insulina em mulheres portadoras de DMG, a metformina foi associada a menor ganho de peso materno do início do estudo até 36 semanas de gravidez. Na coorte “Metformin in Gestational Diabetes: The Offspring Follow-Up” (MiG TOFU), os filhos de mulheres incluídas no estudo MiG foram acompanhados e avaliados de forma prospectiva. A avaliação aos sete anos em um dos centros que mantiveram seguimento clínico não encontrou diferenças em medidas antropométricas. Por sua vez, a análise aos nove anos de outro centro evidenciou maiores medidas de peso, circunferência do braço e da cintura, além de maior relação cintura/altura. Se forma semelhante, uma meta-análise publicada em 2019 concluiu que a exposição à metformina resultou em maior IMC na infância.

A atual diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda o uso da metformina em casos de DMG, como uma alternativa em caso de inviabilidade do uso de insulina. A metformina também deve ser considerada naquelas pacientes que necessitam de altas doses de insulina (> 2UI/kg/dia), sem controle glicêmico adequado, além dos casos de ganho de peso excessivo materno ou fetal. No que se refere às mulheres portadoras de DM2, a diretriz brasileira recomenda considerar o uso da metformina associada à insulina, principalmente naquelas pacientes com ganho de peso excessivo ou fetos grandes para a idade gestacional. O guideline da American Diabetes Association, por sua vez, coloca a insulina como terapia de escolha para os casos de DMG e DM preexistente, ressaltando que a metformina não deve ser utilizada como agente de primeira linha.

Diante dos dados apresentados e comparando os diferentes guidelines, a opinião deste autor é que as diretrizes brasileiras nos apresentam, de forma mais clara, maiores possibilidades de incorporar a metformina ao tratamento da hiperglicemia na gestação, levando em consideração os principais benefícios observados em diferentes estudos no que se refere à redução das necessidades diárias de insulina, além de menor ganho de peso materno e fetal.



Banner

Banner

Banner

Sobre o autor

Ícaro Sampaio

Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco
Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro - BA
Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE
Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Editor Endocrinopapers
Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife e Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: