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Diabetes

A eficácia da dapagliflozina muda de acordo com o IMC?

dapagliflozina
Escrito por Ícaro Sampaio

Já não é novidade que os inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (iSGLT2) (empagliflozina, canagliflozina e dapagliflozina ) demonstraram ser capazes de reduzir desfechos cardiovasculares em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e alto risco cardiovascular. Além disso, reduziram desfechos relacionados à doença renal crônica e insuficiência cardíaca em pacientes portadores dessas condições, independentemente da presença de diabetes. Sabe-se também que são drogas capazes de induzir uma ligeira perda de peso através de múltiplos mecanismos.

O efeito dos iSGLT2 em promover redução de peso é de grande interesse do ponto de vista metabólico e cardiovascular. Há fortes evidências de que o controle da obesidade pode retardar a progressão do pré-diabetes para o DM2, além de promover inúmeros benefícios no tratamento desta condição. Não é à toa que, atualmente, a redução do peso corporal deve ser um dos principais objetivos do manejo de pacientes portadores de DM2. Analisando os aspectos cardiovasculares, a perda de peso é desejável, uma vez que a obesidade é independentemente associada a maior risco de doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial e acidente vascular cerebral.

Considerando o impacto cardiovascular da obesidade, assim como os benefícios já mencionados do uso das gliflozinas, uma análise secundária do DECLARE-TIMI 58 buscou examinar associação entre obesidade e desfechos cardiovasculares e renais, além da relação entre a obesidade e a eficácia da dapagliflozina em pacientes com DM2. O estudo foi publicado no European Heart Journal.

O DECLARE-TIMI 58 foi um estudo randomizado, multicêntrico, controlado por placebo, com dois braços: dapagliflozina 10 mg por dia (n = 8.582) e placebo (n = 8.578). O objetivo era estabelecer a segurança cardiovascular da dapagliflozina numa vasta população portadora de DM2, com doença cardiovascular estabelecida ou múltiplos fatores de risco. O estudo observou uma redução do desfecho composto por morte cardiovascular + internações por IC (5,8% x 4,9%) às custas do último componente.

E quais os resultados da análise secundária?

  • Dentre os participantes, 9,0% tinham um IMC (kg/m2) normal (5 a <25), 31,5% apresentavam sobrepeso (25 a <30), 32,4% obesidade grau I (30 a <35), 17,2% obesidade grau II (35 a <40) e 9,8% obesidade grau III (≥40).
  • Como esperado, a obesidade foi associada a um maior risco de hospitalização por insuficiência cardíaca e eventos de fibrilação/flutter atrial (razão de risco 1,30 e 1,28, respectivamente, por 5 kg/m2; p < 0,001 para todos).
  • A dapagliflozina induziu uma leve perda de peso (até 2,5% do peso corporal) ao longo do seguimento.
  • As reduções de risco relativo de desfechos compostos CV e renais específicos com dapagliflozina não diferiram significativamente em toda a faixa de IMC.
  • Os pacientes obesos tenderam a obter maior redução do risco absoluto de IC e FA/Flutter (p para interação 0,02 e 0,09, respectivamente) do que pacientes não obesos.

Qual foi a relevância desse trabalho?

Apesar do estudo não ter sido capaz de explorar uma relação causal entre a perda de peso mediada pela dapagliflozina e os resultados clínicos, ele nos apresentou resultados importantes: primeiramente, ao reforçar a associação entre a obesidade e doenças cardiovasculares e, em segundo lugar, observando que a dapagliflozina reduziu os eventos cardiovasculares e renais em todo o espectro do IMC, inclusive em pacientes magros.

Referência

Oyama K, Raz I, Cahn A, Kuder J, Murphy SA, Bhatt DL, Leiter LA, McGuire DK, Wilding JPH, Park KS, Goudev A, Diaz R, Špinar J, Gause-Nilsson IAM, Mosenzon O, Sabatine MS, Wiviott SD. Obesity and effects of dapagliflozin on cardiovascular and renal outcomes in patients with type 2 diabetes mellitus in the DECLARE-TIMI 58 trial. Eur Heart J. 2022 Aug 14;43(31):2958-2967. doi: 10.1093/eurheartj/ehab530.

 



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Sobre o autor

Ícaro Sampaio

Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco
Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro - BA
Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE
Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Editor Endocrinopapers
Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife e Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa

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