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Lípides

Ácido bempedóico na intolerância às estatinas

dislipidemia
Escrito por Luciano Albuquerque

O ácido bempedóico é um inibidor da enzima ATP-citrato liase, que atua na mesma via intracelular que as estatinas: a via de síntese do colesterol. O mecanismo de ação é similar: diminuição da síntese intracelular de colesterol e consequente aumento da expressão de receptores de LDL-colesterol (LDL-c) na membrana plasmática, levando ao aumento do clearence plasmático deste elemento.

A droga é atualmente aprovada para uso pelo FDA com a seguinte indicação: na hipercolesterolemia familiar heterozigótica ou na doença cardiovascular estabelecida quando a meta do LDL-c não consiga ser atingida com a dose máxima tolerada de estatina. Entretanto, a falta de estudos demonstrando redução de eventos cardiovasculares, acabava limitando seu uso.

Esse cenário foi modificado com a publicação dos resultados do estudo CLEAR no NEJM. Trata-se de um estudo duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, envolvendo pacientes que não podiam ou não queriam tomar estatinas devido a efeitos adversos inaceitáveis ​​(pacientes “intolerantes a estatinas”) e apresentavam ou apresentavam alto risco de doença cardiovascular. Os pacientes foram designados para receber ácido bempedóico oral, 180 mg por dia, ou placebo.

Foram incluídos 13.970 pacientes, acompanhados por uma mediana de 40,6 meses. O nível médio de LDL-c inicial foi de 139 mg/dl, com redução de 21% em 6 meses. O desfecho primário composto foi reduzido em 13% (P = 0,004). Porém, o ácido bempedóico não teve efeitos significativos em AVCs fatais ou não fatais, nem na mortalidade cardiovascular ou por qualquer causa.
A droga ainda esteve associada a maior incidência de gota e colelitíase, além de pequenos aumentos na creatinina sérica, ácido úrico e enzimas hepáticas. A incidência de descontinuação por qualquer motivo, incluindo efeitos musculoesqueléticos adversos, foi semelhante à do placebo. Também não houve elevação de HbA1c, nem de novos casos de diabetes.
As estatinas já demonstraram grandes benefícios cardiovasculares em vários ensaios clínicos e são recomendadas por todas as diretrizes globais como tratamento de primeira linha em pacientes com risco aumentado de eventos cardiovasculares. Seja real ou percebida, a intolerância às estatinas continua sendo um problema na prática clínica, impedindo o alcance de metas, com os consequentes benefícios apontados em tais estudos. Neste contexto, terapias alternativas são necessárias e o ácido bempedóico pode se firmar como opção.


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Sobre o autor

Luciano Albuquerque

Preceptor da residência em Endocrinologia do HC-UFPE e da residência em Clínica Média do Hospital Otávio de Freitas. Presidente da SBEM regional Pernambuco no biênio 2019-2020.

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