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Diabetes

Novo estudo: agonistas do receptor de GLP-1 e o risco de câncer de tireoide

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Escrito por Ícaro Sampaio

Os agonistas de receptor do GLP-1 (GLP-1 RA) são agentes de grande valia no tratamento de pacientes portadores de obesidade ou diabetes mellitus tipo 2. No último caso, possuem destaque não apenas por sua potente ação hipoglicemiante e redutora de peso, mas também pela capacidade de reduzir desfechos cardiovasculares em pacientes de alto risco. Dentre os principais efeitos adversos dos GLP1-RA estão os sintomas gastrointestinais, como diarreia, náuseas  e vômitos. No entanto, existe também preocupações de segurança quanto ao risco de carcinoma medular de tireoide. 

Sabemos da presença de receptores de GLP-1 expressos nos tecidos da tireoide e estudos de carcinogenicidade em ratos e camundongos demonstraram um aumento do risco de carcinoma medular dependente da dose e do tempo com GLP-1 RA. Com base nesses achados, a Food and Drug Administration dos EUA contraindica o uso de fármacos como liraglutida, dulaglutida, exenatida e semaglutida em pacientes com história pessoal ou familiar de câncer medular de tireoide e neoplasia endócrino múltipla tipo 2. Apesar disso, não há evidências de aumento do risco de câncer em humanos.

Um recente estudo observacional francês  buscou avaliar o risco de câncer de tireoide associado ao uso de GLP-1 RA em um cenário de mundo real. As informações foram coletadas do banco de dados do sistema nacional de seguro de saúde francês. Foram identificados pacientes com diabetes tipo 2 tratados com antidiabéticos de segunda linha (GLP-1 RA, i-DPP4) ou uma multiterapia combinando diferentes agentes. Todos os cânceres de tireoide foram identificados por meio de diagnósticos de alta hospitalar e procedimentos médicos entre 2014 e 2018, sendo então avaliada a exposição ao GLP-1 RA nos anos anteriores. Indivíduos do grupo “caso” foram pareados com até 20 indivíduos do grupo “controle”, considerando idade, sexo e duração do diabetes.

Observou-se que 307 (12,0%) dos casos e 4.348 (9,6%) dos indivíduos do grupo controle já haviam sido expostos aos GLP-1 RA. Desses, 253 (82,4%) casos e 3.524 (81,0%) controles foram expostos à liraglutida e 82 (26,7%) casos e 1.125 (25,9%) controles à exenatida. A análise ajustada mostrou que o risco aumentado de todos os cânceres de tireoide foi associado ao uso atual de GLP-1 RA (HR 1,46, 95% CI 1,23–1,74) e uso cumulativo de 1 a 3 anos (HR 1,58, 95% CI 1,27–1,95) e acima de 3 anos (HR 1,36, 95% CI 1,05–1,74). Particularmente, a análise do câncer medular de tireoide mostrou um risco maior associado ao uso de GLP-1 RA (HR 1,78, IC 95% 1,04–3,05).

Diante dos resultados, digamos, preocupantes, faz-se necessário destacar que, até o presente momento, os dados provenientes de grandes ensaios clínicos não demonstraram haver maior risco de câncer de tireoide de qualquer tipo em pacientes que fizeram uso de agonistas de receptor do GLP-1. Além disso, o estudo em questão possui limitações importantes devido ao seu caráter observacional. Diante disso, não temos ainda evidências suficientes para justificar o monitoramento dos pacientes em uso de GLP1-RA com realização de ultrassonografia de tireoide ou dosagem de calcitonina, por exemplo.

 

Referência:

Julien Bezin, Amandine Gouverneur, Marine Pénichon, Clément Mathieu, Renaud Garrel, Dominique Hillaire-Buys, Antoine Pariente, Jean-Luc Faillie; GLP-1 Receptor Agonists and the Risk of Thyroid Cancer. Diabetes Care 2022; dc221148.



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Sobre o autor

Ícaro Sampaio

Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco
Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro - BA
Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE
Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Editor e Professor do AfyaEndocrinopapers
Professor de endocrinologia da Medcel
Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife

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