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Diabetes

Remissão do diabetes tipo 2: uma meta factível?

Escrito por Ícaro Sampaio

Os tratamentos voltados para o controle metabólico no diabetes mellitus tipo 2  (DM2) melhoraram muito nos últimos anos. A reversão da “glicotoxicidade” que acompanha a restauração do controle glicêmico é melhor documentada com terapia intensiva precoce com insulina, mas pode ocorrer também com outras intervenções. Novas classes de medicamentos, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores do SGLT2, às vezes podem atingir excelente controle glicêmico com pouca tendência a causar hipoglicemia.

 

Mudanças comportamentais significativas – principalmente relacionadas à nutrição e ao controle do peso – podem levar ao retorno da hiperglicemia evidente a níveis de glicose quase normais por longos períodos de tempo. Mais dramaticamente, as intervenções cirúrgicas podem induzir tanto uma perda de peso significativa como uma melhoria adicional do controle metabólico através de outros mecanismos durante períodos prolongados – 5 anos ou mais em alguns casos. Um retorno à regulação glicêmica quase normal após todas essas formas de intervenção é provével no início do curso do DM2 e pode envolver a recuperação parcial da secreção e da ação da insulina.

 

Sem uma intervenção específica, a remissão do DM2 é pouco frequente. Um estudo nos EUA com 122.781 adultos relatou uma incidência cumulativa de remissão em 7 anos de 1,60%, mas foi maior (4,6%) naqueles com DM2 precoce (<2 anos a partir do diagnóstico). Dados da Inglaterra, incluindo 2.297.700 pessoas com DM2, mostraram que apenas 1,7% preenchiam os critérios para remissão do DM2. Aqueles com diagnóstico de DM2 há menos que 1 ano tiveram maiores chances de remissão (2,87) do que aqueles com diagnóstico de 3 a 5 anos. 

 

A definição de remissão do DM2 tem diferido entre vários estudos. Uma recente declaração de consenso recomenda uma critério simplificado de HbA <6,5% e pelo menos 3 meses sem medicamentos hipoglicemiantes,  o que ajuda a padronizar estudos futuros. Agentes mais novos utilizados para tratamento do DM2 da obesidade, que têm como alvo o receptor do GLP1, GIP e até do Glucagon,  bem como a terapia combinada direcionada aos receptores GLP-1 e amilina, são promissores na obtenção de perda significativa de peso e níveis de HbA1c dentro da faixa de remissão do DM2.

 

A remissão do DM2 é cada vez mais reconhecida nas diretrizes internacionais de prática clínica. Aqueles pacientes com DM2 precoce que estão dispostos a alcançar uma perda de peso de 10% têm maior probabilidade de alcançar a remissão do DM2. Esse grau de perda de peso em 1 ano foi associado a uma redução de 21% no risco de mortalidade no Look AHEAD. Uma perda de peso >10 kg foi associada a uma redução de 19,1% e 33,4% no risco cardiovascular previsto no DiRECT e no DIADEM-I, respectivamente.

 

Em recente publicação sobre o tema, na Diabetes Care, o professor Shahrad Taheri afirma que é hora de abraçar a remissão do DM2 como um objetivo terapêutico fundamental no DM2 e de oferecê-lo a um número crescente de pessoas”

 

 

 

Referências:

Matthew C. Riddle, William T. Cefalu, Philip H. Evans, Hertzel C. Gerstein, Michael A. Nauck, William K. Oh, Amy E. Rothberg, Carel W. le Roux, Francesco Rubino, Philip Schauer, Roy Taylor, Douglas Twenefour; Consensus Report: Definition and Interpretation of Remission in Type 2 Diabetes. Diabetes Care 1 October 2021; 44 (10): 2438–2444.

 

Shahrad Taheri; Type 2 Diabetes Remission: A New Mission in Diabetes Care. Diabetes Care20 December 2024; 47 (1): 47–49.



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Sobre o autor

Ícaro Sampaio

Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco
Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro - BA
Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE
Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Editor Endocrinopapers
Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife e Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa

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