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O risco dos suplementos alimentares

Escrito por Luciano Albuquerque

Os Suplementos Alimentares são produtos cuja finalidade é fornecer nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos em complemento à alimentação. Seu uso está aumentando em todo o mundo devido à sua maior acessibilidade, melhora do custo e supostos benefícios para a saúde e rendimento muscular.

Apesar de regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os suplementos não são considerados medicamentos, tendo um controle limitado na sua avaliação de composição, eficácia, segurança e comercialização. Uma variedade complexa de compostos botânicos alternativos para aprimoramento esportivo é promovida pela indústria dos suplementos. Extratos de Rauwolfia (contendo α-ioimbina), metilliberina (composto semelhante à cafeína), Halostaquina (agonista parcial β2), Turkersterone (um esteróide vegetal) e Octopamina (semelhante à norepinefrina) são alguns desses compostos vegetais promovidos em suplementos dietéticos por seus efeitos estimulantes ou anabólicos.

As agências regulatórias não pré-aprovam esses ingredientes (ou qualquer outro suplemento), sendo que inspeções repetidamente apontam que a indústria dos suplementos muitas vezes não cumprem os padrões básicos de fabricação, como estabelecer a identidade, pureza ou composição do produto. Dados os efeitos fisiológicos potencialmente complexos, a situação é preocupante.

Nesse contexto, foi publicado um artigo recente no JAMA. Os autores analizaram a composição de amostras de produtos contendo um dos compostos previamente citados. Dentre um total de 57 produtos analisados, 23 (40%) não continham uma quantidade detectável do ingrediente rotulado. Dos produtos que continham o ingrediente listado, a quantidade real variou de 0,02% a 334% da quantidade rotulada, sendo que apenas 6 (11%) continham uma quantidade dentro de uma margem de 10% da quantidade apresentada. Portanto, cerca de 90% das pessoas que compram esses suplementos esportivos foram literalmente enganadas.

Pior ainda. Sete dos 57 produtos (12%) continham pelo menos 1 ingrediente proibido pela FDA, ou seja, ilegais. Cinco compostos diferentes foram encontrados, incluindo estimulantes sintéticos (1,4-dimetilamilamina, deterenol, octodrina, oxilofrina e omberacetam). Seis produtos continham 1 desses ingredientes proibidos e 1 produto continha 4 diferentes ingredientes combinados.

Finalmente, temos a questão da propaganda, baseada nos alegados benefícios desses produtos. Por lei, as empresas de suplementos podem fazer “alegações de função” (por exemplo, fortalece os ossos), mas são impedidas de fazer alegações de tratamento de doenças (por exemplo, previne a osteoporose), que são reserva exclusiva de medicamentos, produtos biológicos e dispositivos. Também não são exigidas pesquisas médicas com dados adequados para apoiar as supostas indicações.

De fato, este estudo é apenas o mais recente de uma série de artigos semelhantes assinados pelo mesmo grupo de autores, que analisam uma série de outras categorias de suplementos dietéticos. Todos documentam a qualidade extraordinariamente baixa dos suplementos alimentares adquiridos on-line, de “intensificadores cognitivos” à melatonina e ao canabidiol.

Diante da falta de regulamentação, não é improvável que esse problema seja mais generalizado. Os consumidores que compram esses suplementos não têm como saber se estão recebendo um pó totalmente inerte, uma overdose maciça ou um estimulante ilegal em seu shake pré-treino. É extremamente difícil para qualquer pessoa assegurar que tais produtos são seguros e confiáveis, porque não há órgãos independentes realizando verificações.

Para o ser humano médio, há poucas razões para o uso de suplementos, a menos que você tenha muita dificuldade em obter micronutrientes suficientes em sua dieta. Isso é especialmente verdadeiro para suplementos esportivos – as únicas pessoas que realmente precisam suplementar sua ingestão de coisas como proteínas são atletas de elite que se exercitam mais de 4 horas por dia.

Apesar de todas essas considerações, muitas pessoas referem melhores resultados com o uso de suplementos. Nesse caso, fica a recomendação de buscar marcas reconhecidas, que testam seus produtos regularmente e relatam exatamente o que seus testes mostraram. Além disso, cabe a preferência por suplementos com uma substância específica e já estudada (whey protein, creatina, etc), evitando combinações de múltiplas substâncias, fitoterápicos e estimulantes, que infelizmente estão mais expostos a imprecisões e contaminações, onde além de possível ineficácia, existe a exposição a efeitos adversos potencialmente graves.



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Sobre o autor

Luciano Albuquerque

Preceptor da residência em Endocrinologia do HC-UFPE e da residência em Clínica Média do Hospital Otávio de Freitas. Presidente da SBEM regional Pernambuco no biênio 2019-2020.

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