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A reposição de testosterona aumenta o risco de fratura?

Escrito por Erik Trovao

Se teve um estudo cujos resultados deram o que falar durante o ENDO 2023, realizado em Chicago, foi o TRAVERSE. Afinal, o objetivo principal do trial  foi avaliar se a reposição de testosterona em homens com diagnóstico de hipogonadismo era segura do ponto de vista cardiovascular. Felizmente, o resultado foi positivo e a reposição de testosterona (em quem tem indicação, vale sempre ressaltar) mostrou-se segura. Mas o que causou mesmo espanto na comunidade científica foi um outro achado bastante inesperado: o aumento no risco de fratura.

E por que inesperado? Primeiro porque o hipogonadismo, pela deficiência androgênica, é causa de baixa massa óssea e/ou osteoporose. Segundo porque é bem conhecido o efeito positivo dos andrógenos sobre a fisiologia óssea. Afinal, a testosterona, entre outros efeitos, estimula a diferenciação dos osteoblastos e aumenta o número de trabéculas do tecido ósseo, o que poderia contribuir para a maior resistência óssea no gênero masculino.

Embora os dados do TRAVERSE relativos à fratura não tenham sido ainda publicados, eles já foram apresentados no congresso: enquanto no grupo que fez uso de testosterona transdérmica ocorreram 91 fraturas clínicas, foram apenas 64 no grupo placebo (com uma diferença estatisticamente significativa: p = 0,03).

Embora não tenhamos ainda a publicação destes resultados para uma melhor análise, os próprios autores não foram capazes ainda de sugerir uma hipótese que explique este achado. Até porque eles não esperavam que um resultado como este fosse encontrado ao final do estudo.

De toda forma, independente de uma explicação plausível para o aumento do risco de fratura com a reposição de testosterona, é inevitável que a gente se pergunte o que exatamente este achado poderia mudar na prática clínica. Considerando que todo homem com deficiência androgênica deve realizar uma densitometria óssea, fica o questionamento se já não deveríamos iniciar de imediato uma droga anti-osteoporose, como o bisfosfonato, naqueles homens idosos (a média de idade do TRAVERSE foi de 63,3 anos) que receberem o diagnóstico de osteoporose.

Afinal, muitas vezes, especialmente naqueles homens sem fratura, inicia-se apenas a reposição de testosterona e acompanha-se a massa óssea pela densitometria, deixando para decidir posteriormente sobre o início de bisfosfonato. Será que as sociedades passarão a indicar uma droga anti-osteoporose no momento do diagnóstico em associação com a reposição de testosterona?

Vale ressaltar que não podemos extrapolar esses resultados para a população jovem com hipogonadismo e em reposição de testosterona, seja a população de homens cisgênero ou transgênero. Mas, sem dúvida, futuros trials com o objetivo de avaliar o risco de fratura nas mais diversas populações devem ser desenvolvidos a partir de agora.

De qualquer modo, enquanto este mais novo mistério que invadiu o mundo da endocrinologia na última semana não é elucidado, nos cabe aguardar a publicação do artigo completo, na esperança de encontrarmos ali alguma explicação plausível para este efeito negativo sobre a saúde óssea.



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Sobre o autor

Erik Trovao

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