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Tireoide

Calcitonina no seguimento do carcinoma medular

Escrito por Luciano Albuquerque

A calcitonina é um hormônio peptídico de cadeia simples produzido primariamente pelas células parafoliculares da tireoide, sendo amplamente utilizada na avaliação e seguimento do carcinoma medular de tireoide (CMT), neoplasia derivada desse grupo celular. Fisiologicamente, a calcitonina atuaria na regulação dos níveis séricos do cálcio, com ações opostas ao paratormônio (PTH) levando a redução da calcemia. Entretanto, a calcitonina tem tempo de meia vida muito curto, sendo as variações nos níveis do PTH predominantes no controle do metabolismo ósseo.

Os níveis séricos de calcitonina são mais elevados na infância. São propostos valores de referencia < 40 pg/ml para crianças de até 6 meses e < 15pg/ml até os 3 anos. Nas demais faixas etárias, a referência para a maioria dos testes seria < 10 pg/ml.

A calcitonina resulta da clivagem e do processamento da procalcitonina, um peptídeo derivado da pré-procalcitonina. Com o desenvolvimento dos ensaios imunoquimioluminométricos (ICMAs) a reatividade cruzada entre esses peptídeos é amplamente eliminada. Isto é importante porque a sepse ou outras condições inflamatórias gerais podem causar elevações de procalcitonina, com possíveis interferências em ensaios mais antigos. Os níveis séricos de calcitonina podem estar aumentados em pacientes com insuficiência renal crônica e outras doenças, como hiperparatireoidismo, tireoidite autoimune, câncer de pulmão de pequenas e grandes células, câncer de próstata, mastocitose e vários tumores neuroendócrinos entéricos e pulmonares. Nessas condições, diferentemente do observado no CMT, os níveis séricos de calcitonina não aumentam em resposta à estimulação com cálcio ou pentagastrina.

Anticorpos heterofílicos podem causar níveis séricos de calcitonina falsamente elevados. O “efeito gancho” pode levar a níveis falsamente baixos no imunoensaio diante de níveis séricos muito elevados de calcitonina (como ocorre em pacientes com CMT disseminado), porém é menos frequente nos ICMAs.

Vamos as principais dicas sobre o uso da calcitonina no Carcinoma medular:

– Níveis de calcitonina acima do limite superior da normalidade em um paciente com nódulo de tireoide com citologia suspeita são indicativos de CMT. A dosagem de calcitonina diretamente do lavado da agulha de biopsia apresenta maior sensibilidade, sendo sugerida como uma melhor ferramenta diagnóstica.

– Na avaliação pré-operatória, níveis de calcitonina muito elevados (> 500 pg/ml) são indicativos de metástases a distância, enquanto níveis mais baixos (< 20 pg/ml) virtualmente afastam a possibilidade de metástase linfonodal.

– Já no seguimento pós operatório, níveis de calcitonina > 150 pg/ml indicam busca mais extensiva por lesões metastáticas. Niveis elevados, mas abaixo desse limiar são mais compatíveis com metástases linfonodais.

– No acompanhamento do paciente com metástases conhecidas, uma ferramenta útil na é o doubling time de Calcitonina. Para seu cálculo, são necessários 4 medidas ao longo de 2 anos. Doubling time mais curto (< 6 meses) está relacionado a doença progressiva e indica terapia sistêmica.

– Em filhos de pacientes com CMT associado a mutação germinativa do protooncogene RET, os valores séricos de calcitonina devem ser acompanhados. Elevações são indicativas de tireoidectomia profilática imediata (indicada aos 12 meses para mutações de muito alto risco e aos 5 anos em mutações de alto risco).



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Sobre o autor

Luciano Albuquerque

Preceptor da residência em Endocrinologia do HC-UFPE e da residência em Clínica Média do Hospital Otávio de Freitas. Presidente da SBEM regional Pernambuco no biênio 2019-2020.

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