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Diabetes

Inibidores do SGLT2 e câncer em pessoas com diabetes

renal
Escrito por Luciano Albuquerque

A relação entre diabetes e câncer é um campo de estudo complexo e em constante evolução. Alguns estudos sugerem que pessoas com diabetes tipo 2 (DM2) têm um risco ligeiramente aumentado de desenvolver certos tipos de câncer, como câncer de fígado, pâncreas, cólon e mama.

Existem várias razões possíveis para essa associação. Uma delas é que a hiperinsulinemia, decorrente da resistência à insulina, característica do diabetes tipo 2, pode desempenhar um papel no crescimento de células neoplásicas. Além disso, fatores como obesidade, falta de atividade física e dieta não saudável, podem contribuir tanto para o desenvolvimento do diabetes quanto para o câncer.

Em 2020, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) emitiu uma comunicação de segurança informando uma avaliação sobre o risco de câncer de bexiga associado ao uso de inibidores do SGLT2. Os dados de um ensaio clínico mostraram um possível aumento do risco, mas os resultados não foram estatisticamente significativos.

Dados recentes têm reforçado a segurança dos iSGLT2. Estudo recém publicado analisou o banco de dados  do Seguro Nacional de Saúde em Taiwan, agrupando 325.990 adultos com DM2 usando um inibidor de SGLT2 entre 2016 e 2019 (57,8% homens; idade média de 58,5 anos) pareados 1:1 com não usuários dessa classe. Os adultos que receberam inibidores de SGLT2 tiveram um risco menor de desenvolver câncer do que aqueles que não usaram SGLT2s (HR ajustado = 0,79; IC 95%, 0,76-0,83). Entre a coorte completa, os homens tiveram um risco maior de desenvolver câncer do que as mulheres (aHR = 1,35; 95% CI, 1,3-1,41). Como esperado, a incidência aumentou com o avanço da faixa etária.

O maior tempo de uso dos iSGLT2 também foi associado a menor risco. Adultos que usaram um iSGLT2 por menos de 60 dias (aHR = 1,68; 95% CI, 1,59-1,78) ou 60 a 140 dias (aHR = 1,3; 95% CI, 1,21-1,39) tiveram maior probabilidade de desenvolver câncer do que aqueles que não usaram SGLT2s. O risco de desenvolver câncer foi menor para adultos usando um inibidor de SGLT2 por 140 a 280 dias (aHR = 0,73; 95% CI, 0,68-0,78) ou mais de 280 dias (aHR = 0,26; 95% CI, 0,23-0,28) em comparação com não usuários.

Reforçamos que trata-se de um estudo observacional, não sendo possível estabelecer nexo causal, nem abordar o mecanismo detalhado subjacente à observação. No entanto, a tendência de proteção é baseada em um conjunto de dados nacional bem validado. A esse respeito, identificar o papel da intervenção farmacológica no câncer incidente entre indivíduos diabéticos é verdadeiramente novo e interessante. A importância do tema incita esforços direcionados para a prestação de cuidados de saúde adequados para pessoas com diabetes.



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Sobre o autor

Luciano Albuquerque

Preceptor da residência em Endocrinologia do HC-UFPE e da residência em Clínica Média do Hospital Otávio de Freitas. Presidente da SBEM regional Pernambuco no biênio 2019-2020.

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