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Diabetes

Verapamil e a preservação das células beta.

Escrito por Luciano Albuquerque

O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é caracterizado pela destruição auto-imune das células beta do pâncreas, produtoras de insulina, sendo responsável por 5% a 10% de todos os casos de diabetes, com uma incidência mundial de cerca de 15 casos por 100.000 indivíduos por ano. A preservação da função residual das células beta, mesmo que modesta, é uma meta desejável e está associada a um menor risco de complicações vasculares relacionadas ao diabetes e hipoglicemia.

Após várias décadas de pesquisa, alguns agentes imunomoduladores foram capazes de preservar parcialmente a funcionalidade das células beta no diabetes tipo 1 de início recente, incluindo ciclosporina, abatacept, alefacept, rituximab, golimumab, globulina antitimócita em baixa dose, e a combinação do anticorpo monoclonal anti–IL-21 com liraglutida. Nesse propósito, apenas o teplizumabe foi recentemente aprovado para uso no diabetes tipo 1 em estágio 2 (autoanticorpos positivos relacionados ao diabetes com evidência de disglicemia), objetivando retardar sua progressão.

Estudo recentemente publicado no JAMA avaliou o efeito do Verapamil, um bloqueador de canal de cálcio, na preservação de células beta em pacientes com DM1 estágio 3 (clinicamente aparente). O medicamento reduz a expressão da “Thioreduxin-Interacting Protein” que induz a apoptose das células beta pancreáticas induzida por glicotoxicidade. O estudo envolveu 88 participantes com idade média de 12,7 anos e tempo médio de diagnóstico de apenas 24 dias! No grupo verapamil, os níveis de peptídeo C foram 30% maiores em 52 semanas quando comparados ao placebo. Além disso, a hemoglobina A1c manteve-se mais baixa (6,6% versus 6,9%) com significância estatística.

O atual estudo confirma os achados do ensaio piloto anteriormente publicado. O acompanhamento posterior desses participantes sugeriu um possível benefício sustentado do verapamil em 2 anos, embora o tratamento durante o ano 2 não tenha sido controlado Tendo em vista o perfil de segurança favorável em comparação com agentes imunossupressores, a administração oral uma vez ao dia e o baixo custo, o início da terapia com verapamil pode ser considerado para pacientes com diabetes tipo 1 recém-diagnosticado. Mais estudos são necessários para determinar a durabilidade da melhora do peptídeo C e a duração ideal da terapia com verapamil.



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Sobre o autor

Luciano Albuquerque

Preceptor da residência em Endocrinologia do HC-UFPE e da residência em Clínica Média do Hospital Otávio de Freitas. Presidente da SBEM regional Pernambuco no biênio 2019-2020.

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